Falta de consistência da adaptação abala essência de Riverdale

Diyah Pera/The CW /Divulgação
Odeio quem julga o livro pela capa, mas convenhamos: Riverdale (Warner, 2ª, 21h40, 14 anos) se mostra mais pobre na essência e no conteúdo do que possa parecer. Reduz-se a história do Archie das histórias de quadrinhos a um verdadeiro besteirol de incompreensões dignas de soap opera diurnas, das raras que ainda sobrevivem na televisão norte-americana. É uma babaquice sem tamanho para quem pensava estar vendo um drama de ação. Pelo contrário: vê se uma história inerte, imbecil e sem plano algum.
Ótimo. Vamos à pergunta principal: faltam atores que prestem nesse elenco? Infelizmente, sim. Quem é Luke Perry? Até onde eu sei, não. Numa checada, verifica-se que o sujeito é ator velha guarda, do Barrados no Baile. Passou dos 50 anos, tal qual a presidenta do SAG-AFTRA, sindicato de atores, uma tal de Gabrielle Carteris, mais esquecida que mala em guarda volume de rodoviária. Para o papel do Archie na televisão, chamou-se o ator neozelandês KJ Apa, 19, que tinha três créditos no IMDb e está no quinto após a estreia.
Com o nome do ator principal parecendo música do Martinho da Vila (Na Aba, gravada em 1984, 13 anos antes de KJ Apa vir ao mundo), fica a impressão de que Riverdale, enquanto série dramática é uma piada pronta. Em alguns momentos, se alterca no dramalhão a la Brothers & Sisters (viva Sally Field!), ora descamba para o mezzotermo entre Friday Night Lights e um aspirante fracassado a Sérgio Ricardo, que não quis quebrar o violão como o músico nascido na mesma Marília de nosso medalhista no salto com vara Tiago Braz.
Sem dar o salto a torcer, a premissa de seu sexto episódio, ancorada num festival de talentos tradicional da escola de Riverdale, cidade fictícia que tal Smallville (de outra jurisdição) empresa o título à trama, patina ora para o dramalhão intrigante, ora para o pastiche da ridicularidade. O roteiro de Steven A. Adelson fez Faster! Pussycats! Kill! Kill! parecer coisa mais próxima de The Blacklist, sem o careca do James Spader e um bando de atores secundários. Excepcionalmente, Riverdale deu alguma dinâmica. Até sábado.
Publicação simultânea com o caderno Notícia da TV do Jornal Meio Norte que circula no sábado (1º/4)