Esquema de corrupção no concurso é antigo, mas só começou a tomar força na gestão do candidato Republicano à Casa Branca
João Eduardo Lima
Editor e criador dos blogs TV em Análise

Eduardo Verdugo,/Associated Press/28.05.2007
Eleição da japonesa Riyo Mori como Miss Universo 2007 é uma das que teriam sido manipuladas por Trump, diz auditoria da WME/IMG sobre a antiga gestão da Miss Universe Organization
Um grande esquema de fraudes de resultados do concursos de beleza Miss Universo foi implantado durante a gestão do candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, 70, entre os anos de 1996 e 2014. De acordo com um grupo de ex-coordenadores nacionais, Trump adulterava ou mandava adulterar as planilhas de voto das candidatas apesar da existência da pontuação eletrônica que decidia as classificadas para as etapas seguintes até à fase de trajes de gala. O sistema foi abolido em 2012, mesmo ano em que a americana Olivia Culpo foi eleita Miss Universo de forma fraudulenta, através de um esquema de distribuição de propinas a jurados, que envolveu entidades como a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e grupos de comunicação como Globo e RBS.
A descoberta das fraudes foi feita por diretores da WME/IMG, nova controladora da Miss Universe Organization, pertencente a aliados da candidata democrata Hillary Clinton, 68. De acordo com a companhia, mecanismos de combate a fraudes e erros em leituras de resultados começaram a ser implantados depois do episódio ocorrido com o comediante Steve Harvey, 59, que não atendeu a uma orientação da produção do concurso e errou a leitura do resultado do Miss Universo 2015. Pelo roteiro original, ao qual o TV em Análise Críticas teve acesso com exclusividade, Harvey deveria ler “a segunda colocada é… Colômbia! E a Miss Universo 2015 é Filipinas!”. Caso o roteiro tivesse sido levado à risca, a colombiana Ariadna Gutiérrez ficaria mesmo na segunda colocação e a filipina Pia Wurtzbach terminaria como Miss Universo 2015, o que de fato só aconteceu após uma reprimenda de Harvey em estagiários de produção, que a WME/IMG demitiu após uma investigação interna feita semanas após o concurso.
Segundo os ex-coordenadores, que pediram para não terem seus nomes e países revelados, com medo de represálias, Trump adulterou resultados dos concursos de Miss Universo nos anos de 1996, 1999, 2000, 2007, 2009, 2012 e 2013. De acordo com o grupo, Trump oferecia propinas a coordenadores nacionais na América do Sul em troca da não classificação de suas candidatas e da proibição de venda de direitos televisivos para determinados países, inclusive o Brasil. No início da gestão de Trump no Miss Universo, em 1996, os direitos do certame no país estavam nas mãos das Organizações Globo (hoje Grupo Globo), que os usava para “trancar” a veiculação de qualquer informação relativa ao Miss Universo bem como ao concurso nacional relacionado, o Miss Brasil, e suas disputas regionais em todas as mídias – jornal, revista, rádio e televisão. As novas mídias só entrariam em um novo pacote, assinado pela Globo junto à MUO, em 1999, que expirou em 2004, quando o Miss Universo já estava nas mãos do Grupo Bandeirantes de Comunicação, através de um preposto da Globo, o empresário Boanerges Gaeta Jr.
Antes de Trump assumir o comando da Miss Universe Inc., para depois transformá-la em Miss Universe Organization, o Brasil já tinha um histórico de dois títulos, quatro segundos lugares, três quartos lugares, dois quintos lugares e 14 classificações entre as semifinalistas, acumulando até então 25 classificações no geral. Esse histórico poderia ter sido maior caso a Globo não tivesse interferido com mão de ferro para derrubar a divulgação dos concursos de misses na mídia a partir de 1970, quando começou a exercer o monopólio da informação na imprensa brasileira, se valendo de leis ridículas editadas no governo do general Emílio Garraztazu Medici (1905-1985), que proibiam a repercussão dos resultados do Miss Universo por parte dos órgãos de imprensa e a divulgação dos concursos regionais e do concurso nacional. Esse foi o argumento usado pelo departamento jurídico da Band para tentar perseguir e calar o Críticas em 31 de março de 2014, após publicar uma série de matérias contra a ex-coordenadora do concurso Miss Mato Grosso do Sul, Melissa Tamaciro, acusada de cancelar o concurso de 2013 para favorecer um prefeito municipal de seu Estado, filiado ao PSDB, partido autor da ação que pede no Tribunal Superior Eleitoral a cassação da chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB), reeleitos presidenta e vice-presidente da República em segundo turno, no dia 26 de outubro de 2014.
Fraudes começaram na década de 1960, mas nunca foram denunciadas
Segundo os ex-coordenadores, o esquema de fraudes nos resultados do Miss Universo começou depois que a Pacific-Mills, empresa criadora do certame, foi adquirida pela Kayser-Roth, em 1960. Não era costume da época acusar a coordenação do Miss Universo de corrupção, mas a prática só se agravou depois que o certame sofreria outras duas trocas de comando: da Kayser-Roth para a Gulf + Weestern, então dona dos estúdios Paramount, em 1977, e da G + W para a MSG Entertainment, em 1988. Foi na gestão da MSG Entertainment que passou a se ter um maior descontrole dos contratos de transmissão do Miss Universo, desfavorecendo o Brasil e privando o país de assistir ao certame de 1989 a 1997. Já na gestão Trump, o SBT, detentor dos direitos do Miss Universo para o país até 1988, assinou um novo acordo de exibição do certame, o qual não possibilitava transmissões ao vivo. Pela “agenda” da Globo, não era permitido a nenhum órgão de imprensa veicular qualquer dado ou informação sobre concurso de beleza que ocorresse em maio (mês usual do Miss Universo entre 1991 e 2002, anos em que vigorou a proibição do concurso no país).
Além do Brasil, outros países que tinham candidatas ao Miss Universo em diferentes anos tinham problemas para negociar contratos de transmissão com a geradora de então, a CBS. A CBS, por sua vez, mandava cada coordenação nacional ir negociar esses direitos com a MSG, que era a encarregada da distribuição internacional do Miss Universo. A balbúrdia dos direitos internacionais do Miss Universo acabou em novembro de 2002, quando a empresa Alfred Haber Distribution assinou acordo com a Miss Universe Organization, para representar os interesses de distribuição internacional do certame. Para o Miss Universo 2015, a WME/IMG herdou os acordos assinados pela Alfred Haber e os honrou. A dúvida agora para o Miss Universo 2016 é saber se a Alfred Haber vai continuar como distribuidora do evento ou esse ônus vai acabar sendo assumido pela IMG.
A implantação da pontuação eletrônica das candidatas, em 1978, ajudou a amenizar um pouco os ânimos já acirrados de algumas coordenações nacionais, inclusive a do Brasil, que estava nas mãos dos já agonizantes Diários e Emissoras Associados. A transição para o SBT, iniciada em 1979, ajudou a dar novo ânimo para o país no Miss Universo. Fez com que o país tivesse três classificações não consecutivas em um intervalo de quatro anos, de 1979 a 1982, quando a concessão do Miss Brasil já estava toda mas mãos do SBT. Os altos e baixos começaram a ocorrer em 1983, e levaram a emissora a devolver os direitos para a Miss Universe Inc., em maio de 1989, alegando falta de receita para pagar os direitos de transmissão do Miss Universo, considerados proibitivos àquela altura para o mercado brasileiro. Foi nessa época que diretores da Globo procuraram a CBS para comprar os direitos do Miss Universo e também do Miss USA, segundo se especula, “apenas para consumo interno”, não permitindo que o público tivesse acesso aos concursos de beleza.
E foi exatamente durante a proibição imposta pela Globo que a Índia e a Venezuela fizeram a festa no quadro de classificações do Miss Universo. Entre 1983 e 2003, a Venezuela acumulou 21 classificações no certame, contra apenas cinco do Brasil no período. Nessa mesma época, a Índia de Sushmita Sen e Lara Dutta levava seus dois únicos títulos de Miss Universo. E o Brasil via seu concurso nacional num esquecimento forçado pela agenda da Globo, que privou seu público do principal concurso de beleza do mundo.
Só falta provar, né? KKKK.
A peituda da Strormy Daniels, a Karen McDougal e o Michael Cohen (ex-advogado do Donaldo Trump) sabem dessa bandalheira melhor que o Acervo da Rede Globo de Televisão.
Ass. Otto Lara Resende (in memoriam)
(Aquele que dizia que “mineiro só é solidário no câncer”)