Não na moeda de George Washington, mas na do Cumpadre Washington
João Eduardo Lima
Editor e criador dos blogs TV em Análise
Marthina Brandt em etapa estadual de Cuiabá: esmola para Grazi
Um dos itens do Manual de Ética e Operações que a Organização Miss Brasil Universo lançou em seu site para o concurso Miss Brasil 2016 chama a atenção não pela sua importância, mas pela irrelevância a que joga o concurso que revelou em um passado distante nomes como Vera Fischer, Martha Rocha, Grazi Massafera, dentre outras. A cobrança de um “cachê simbólico” de R$ 4 mil a cada um dos 27 coordenadores estaduais que requisitarem a presença da Miss Brasil 2015 Marthina Brandt, 24, assusta. Não pelo absurdo de superfaturamento que costuma se reclamar de estrelas do axé ou do sertanojo universotário requisitados por prefeitos e governadores metidos até à medula em inquéritos criminais no Supremo Tribunal Federal, Tribunal de Contas da União, Tribunais de Contas dos Estados e Ministérios Públicos Federal, Eleitoral e Estaduais. Mas pelo nanismo a que se jogou o principal concurso de beleza do país, jogando para níveis abaixo de Venezuela, Colômbia, Rússia ou Estados Unidos.
Aos olhos dos mais experientes especialistas de mercado no agenciamento de talentos e representação artística do país (inclusive aqueles abençoados pela maldita Lei Rouanet de renúncia fiscal), a cobrança do cachê de Marthina para aparecer em concursos regionais do Miss Brasil 2016 é sinal evidente de subfaturamento. Subvaloriza uma indústria que se pretende formar no país, a dos concursos de beleza respaldados por acordos multi anuais e milionários de transmissão, como o que a Band fechou em outubro passado com a Miss Universe Organization para manter a concessão do Miss Universo para o Brasil e permitir, com a chancela da WME/IMG, a venda da administração do concurso Miss Brasil para a empresa de varejo Polishop. Após a posse do certame aprovada pelo empresário Ari Emanuel, 55, a Polishop registrou um crescimento de 65% no número de reclamações na Fundação Procon do Governo do Estado de São Paulo entre os anos de 2015 e 2016. Desde 2009, a nova dona do Miss Brasil acumula 173 reclamações no Procon-SP, boa parte delas por propaganda enganosa e produtos entregues com defeito. E parece que tal teoria está se empregando nos certames que coordena.
Em plena Belíndia, o valor que a Organização Miss Brasil Universo cobra em moeda local dos coordenadores regionais para a atual Miss Brasil aparecer nos seus certames não é nem um terço do que é cobrado pela WME/IMG dos coordenadores estaduais do Miss USA. Estima-se que a Miss Universe Organization cobre dos contratantes tanto da Miss Universo 2015 Pia Wurtzbach quanto da recém-eleita Miss USA 2016 Deshauna Barber em torno de US$ 10 mil a US$ 12 mil por evento. Em caso de concurso nacional televisionado, os valores sobem, a depender da moeda corrente local empregada. Para a ex-miss USA Olivia Jordan aparecer no Binibining Pilipinas 2016, a empresa organizadora do certame pagou US% 29 mil, cobertos pelos patrocinadores locais. E, para a Polishop, dinheiro parece não ser problema para pagar cachês de contratados da Rede Globo apresentarem os concursos estaduais e nacional. Isso, a despeita da curva ascendente de denúncias contra a empresa nos órgãos de defesa do consumidor. No entanto, na conversão dos valores cobrados para Brandt aparecer nos certames para o dólar norte-americano, Deshauna e Pia perdem: considerando-se os valores desta terça-feira (14), a Miss Brasil 2015 não aparece em concursos estaduais por menos de US$ 13,92 mil.