Dinheiro foi usado para fazer propina aos jurados do concurso e diretores da Rede Bandeirantes
João Eduardo Lima
Editor e criador dos blogs TV em Análise
Débora Lyra: eleição como Miss Brasil(*) 2010 também foi financiada por supermercadistas “laranjas” da gaeta(**)
Por trás da sujeira já noticiada por este Críticas acerca das fraudes no concurso de Miss Brasil(*) 2010, uma descoberta estarrecedora vem à tona para manchar ainda mais a eleição fraudada da capixaba Débora Lyra na condição de representante de Minas Gerais.
Segundo o Críticas apurou com exclusividade, a Associação de Supermercados de Minas Gerais (AMIS) arrecadou R$ 26.565.933,04 junto a seus associados com o intuito de fazer caixa “para uma importante campanha beneficente”. O que se descobriu durante a apuração desta matéria é que a tal “campanha” nada mais era que operar o esquema de compra de votos dos jurados da 56ª edição do concurso, realizada em 9 de maio, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Grande parte do montante foi arrecadado pela DMA Distribuidora S/A, razão social do grupo controlador da antiga rede de supermercados Mineirão, vendida em 2002 aos franceses do Carrefour. De acordo com papeis entregues por ex-coordenadores municipais do Miss Minas Gerais(*) à redação do Críticas pelos elencos de Missing, NCIS, NCIS: Los Angeles e Body of Proof e pela cantora Vanusa, a DMA doou R$ 17.143.248,54 à Gaeta Promoções e Eventos e à Band para, segundo consta, “incentivar a eleição da Miss Minas Gerais(*) 2010, Débora Moura Lyra, como Miss Brasil(*) 2010”.
De acordo com registros oficiais, a DMA é uma das 17 empresas-laranja constituídas pela quadrilha de Nayla Micherif e Boanerges Gaeta Jr. para, supostamente, fazer caixa para as transmissões do concurso Miss Brasil(*) na Rede TV! e na Band entre 2002 e 2011. Só no ano passado, o esquema causou um prejuízo de R$ 37 milhões à Band, que também deixou de lucrar com a transmissão do Miss Universo(*), realizada em São Paulo. Segundo registros da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, a DMA Distribuidora pertence a Romo Neves, mardido de Nayla, principal operadora do esquema de corrupção no concurso Miss Brasil(*) durante o periodo, que incluiu também empreiteiras (Andrade Gutierrez), empresas de telefonia (Oi), administradoras de cartão de crédito, provedores de Internet e até mesmo empresas concorrentes da Band e da Rede TV!, como a Globo.com e até mesmo a Rede Globo de Televisão e partidos políticos como PSDB, PPS e PFL (atual Democratas).
O caminho da propina
De acordo com um diretor municipal desligado do concurso Miss Minas Gerais(*) por denunciar a maracutaia agora exposta pelo TV em Análise Críticas, o esquema de compra de votos para Débora Lyra e outras misses mineiras começava a operar meses antes da etapa brasileira do Miss Universo. Para o concurso de 2010, por exemplo, a AMIS começou a campanha de arrecadação de fundos pró-Débora em outubro de 2009, após a convenção anual da entidade, a Superminas, realizada em Belo Horizonte. Estima-se que a AMIS e a DMA tenham corrido a sacolinha em, pelo menos, 14 redes pequenas filiadas à entidade. Cerca de 20 redes menores, compostas de supermercados de bairro, se negaram a aderir ao esquema, alegando “custos operacionais irrelevantes” (devido ao contrato do Miss Brasil ser com a Band e não com a Globo) e “falta de visibilidade na mídia”. “Vale mais a pena trabalhar com um ex-BBB ou uma atriz de novela do que operar para esse esterco denominado Gaeta”, disse um supermercadista filiado à AMIS, que pediu para não ser identificado temendo represálias.
O “esquema Tim Tones” (alusão à paródia do falecido Chico Anysio ao pastor suicida americano Jim Jones, que coordenou a matança em massa de 900 fiéis de sua seita na Guiana, em 1978) assustou muitos comerciantes ligados à AMIS e à turma de Romo Neves e Nayla Micherif, que àquela altura renegara Boanerges à condição de “rei da Inglaterra” – não mandava em nada na coordenação do sujíssimo Miss Brasil(*). Para a Gaeta, a AMIS, a DMA, a Globo e a Band, passar a sacolinha significava também arrebanhar votos para a candidatura tucana de José Serra à Presidência da República naquele ano. E contar com a vã expectativa de ter Aécio Neves como companheiro de chapa, o que não aconteceu (o posto de vice foi para o irrelevante deputado carioca Índio da Costa). Serra perdeu a eleição em segundo turno para a ex-guerrelheira Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil no governo Lula. E Débora, pupila tucana, acabou desclassificada das semifinais do Miss Universo 2010, acuada pelas denúncias do Críticas sobre sua eleição, até hoje, suspeita.
A “força” da Band
A despeito do boicote em massa dos supermercadistas mineiros para operar o propinoduto pró-Débora Lyra, diretores da Band, à época do Miss Brasil(*) 2010 (com o intento de atender também os interesses dos ruralistas e das transnacionais Colgate-Palmolive e Bunge, que patrocinavam a disputa) defenderam a eleição da capixaba, segundo eles, “para assegurar espaço na programação da [concorrente] Globo”. Era uma maneira de forçar a participação de Lyra na 11ª edição do Big Brother Brasil, já demonstrando desespero com o fracasso dos concursos de beleza, decadentes não só em termos financeiros como de audiência. Por fora, a Band não ofereceu propina, mas orientou os jurados preliminares a votarem em Lyra para as semifinais.
Já de posse do dinheiro arrecadado entre os supermercadistas, diretores da Band trataram de repassar, por baixo, o montante para que os jurados votassem pela eleição de Débora Lyra como Miss Brasil(*) 2010, numa da mais sujas eleições de misses da história, marcadas pelo interesse da direita reacionária em destruir o Brasil, começando pela privatização do Banco do Brasil, da Petrobrás e das universidades federais, defendendo o que Fernando Henrique Cardoso chamava de “Estado mínimo”. Ou Estado nu, no caso.
(*)Na teoria, a Band é dona dos direitos de transmissão do concurso Miss Brasil e de seus concursos estaduais quando, na prática, estes pertencem à Globo (que desde 1990 paga para não transmití-lo). É a mesma coisa que a emissora da famíglia Marinho fez (e ainda faz) com as séries da FOX, como Glee, Bones, Burn Notice e outras (fora as animações)
(**)gaeta é o modo como a Gaeta Promoções e Eventos deve ser sempre escrita: em minúsculas, para provar o quanto o Brasil é uma sub-Venezuela, um sub-Porto Rico, uma sub-Colômbia (tipo um Whooper Jr.) ou uma Guatemala tamanho-família (tipo esses sanduíches Whooper do Burger King, Sub do Subway, Big Bob, Big Mac e afins) em termos de concursos de misses
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